Revista Científica e Moral do Espiritismo - Editorial
- Detalhes
- Escrito por Cremildo Freitas
- Acessos: 36
Aos nossos leitores
Nosso programa
"O Espiritismo, marchando com o progresso, jamais será subjugado porque, se novas descobertas lhe demonstrassem que ele está errado num ponto, ele se modificaria nesse ponto; Se uma nova verdade é revelada, ele a aceita."
Allan Kardec.
Ao iniciar esta publicação, consideramos como um dever prestar homenagem a um grande coração, a uma alma devota que dedica a maior parte de sua fortuna a propagação das doutrinas de Allan Kardec e à benevolência daquela da qual devemos a felicidade de entrar no acampamento de espiritualistas militantes. Esta amiga tão modesta quanto generosa, quer se manter anônima, mas temos certeza de que seu doce nome de Esperança será abençoada por todos que compreendem a necessidade de propagar os ensinamentos salutares do espiritismo, em uma época em que o materialismo triunfante libera as paixões mais odiosas.
Mais do que nunca, é útil hoje colocar, em face das negações interessadas, os fatos que estabelecem a inabalável certeza da imortalidade da alma e mostrar que uma filosofia científica se eleva sobre as ruinas de religiões desamparadas e abandonadas.
A medida que o perigo aumenta, a intervenção do mundo dos espíritos se torna mais evidente. Estamos testemunhando nesse momento um recrudencimento das intervenções espirituais. Os jornais estão cheios de aparições, de casas mal-assombradas, cartomantes, previsões do futuro. O mundo erudito, saindo da sua inércia, começa a estudar seriamente os fenômenos espirituais. O momento agora é bem escolhido para aumentar o número de defensores das nossas idéias. A nossa nova revista contribuirá para a divulgação de grandes verdades que nos foram reveladas, por meio de estudo cuidadoso de todas essas manifestações e se esforçando a demonstrar que se enquadram no quadro das leis naturais, o espiritismo cresceu consideravelmente.
Tomamos Allan Kardec como nosso mestre, e não podemos fazer melhor do que reproduzir aqui o que ele escreveu há muito tempo. Já fazem 40 anos e suas palavras ainda são relevantes hoje, e sempre serão, porque é o próprio bom senso que as ditou (Ref 2.):
- Todos os fenômenos espíritas tem por princípio a existência da alma, a sua sobrevivência ao corpo e suas manifestações;
- Os fenômenos, sendo baseados numa lei da natureza, não tem nada de maravilhoso ou sobrenatural no sentido vulgar destas palavras;
- Muitos fatos são considerados sobrenaturais apenas porque não sabemos a causa; o espiritismo, atribuindo-lhes uma causa, introduz-os no reino dos fatos naturais;
- Entre os fatos descritos como sobrenaturais, há muitos cuja impossibilidade o espiritualismo demonstra e que a eles classificam entre as crenças supersticiosas;
- Embora o Espiritismo reconheça em muitos que as crenças populares têm um fundo de verdade, ele não aceita de forma alguma a solidariedade de todas as histórias fantásticas criadas pela imaginação;
- Julgar o espiritismo com base em fatos que ele não admite é dar prova de ignorância e isso retira todo valor da opinião;
- A explicação dos fatos aceitos pelo espiritismo, sua causas e suas consequências morais, constituem toda uma ciência e toda uma filosofia que requer estudo sério, perseverante e aprofundado.
Desde a morte do eminente filósofo, os fenômenos materiais passaram por um desenvolvimento considerável; Eles têm apresentado uma variedade prodigiosa, desde as fotografias dos Espíritos até as impressões e moldes das aparições.
Contudo, os princípios estabelecidos pelo grande iniciador são suficientes para explicá-los logicamente, e nenhum escritor, nenhum pensador, formulou qualquer outra teoria aceitável ou comprovada além daquelas reveladas pelos Espíritos ou disseram que elas eram insuficientes. Nós tomaremos então para guiar nossas explicações os livros fundamentais em que se ensina a filosofia espirita, e até que se prove em contrário, iremos considerá-los como contendo a maior soma de verdades que podemos adquirir do mundo além.
Um fato que era fácil de prever tornou-se realidade, ou seja, as investigações científicas, longe de destruir o que os espíritos nos ensinaram, confirmaram nossas crenças.
Descobertas recentes da matéria radiante e dos raios X demonstram-nos a existência destas formas de energia que ainda ontem eram desconhecidas, mas que os espíritas conhecem a muito tempo sob o nome de fluidos. A pesquisa que perseverar neste terreno nos mostrará muitas outras, e não há dúvidas de que a realidade dos fluidos será estabelecida com evidências tão convincentes quanto aquelas que temos hoje sobre o perispírito cuja existência foi posta em evidência e acima de qualquer discussão pelos fenômenos de telepatia, duplicação e materialização.
Mas é bom acompanhar de perto todo esse trabalho, para evitar que sejam distorcidos pelos observadores e que não queiram vislumbrar todas as consequência naturais deles. Não vemos hipnotizadores silenciando-se sistematicamente aos casos de dupla vista, ação à distância, cura, visão de espíritos, que certamente ocorrem em suas experiências ? Esses fatos ainda não são ortodoxos, pelo que nenhum observador que se preze ousa dar a publicidade a quem de direito. Os antigos magnetizadores tinham menos respeito humano, assim suas obras são valiosas para consultar e nos mostrar as lacunas das obras atuais.
Nosso deseja é acompanhar as investigações de perto. Conclamar estudiosos da ciência espírita para darem a explicação dos fenômenos que observam e, por meio de leis conhecidas, mostrarem que esses novos fatos podem ser compreendidos sem recorrer a milagres ou ao sobrenatural. Também nos esforçaremos para distinguir a verdadeira causa das manifestações, para mostrar que ela reside na ação dos Espíritos, e que o médium é sempre apenas um instrumento passivo de sua vontade.
Os princípios filosóficos decorrentes da imortalidade da alma, da responsabilidade dos atos, será constantemente trazidos diante dos olhos do leitor, e talvez nos seja possível demonstrar que as leis físicas governam o estado do espírito no espaço com tanto rigor quanto na terra elas dominam o corpo material.
Manteremos contato próximo com nossos amigos da erraticidade, pediremos os seus concursos e teremos prazer em nos beneficiar dos bons ensinamentos que nos trarão. Nosso trabalho abrangerá não apenas o estudo da alma durante a vida e após a morte, mas também a sua origem e os seus destinos que estão ligados ao do universo. Como podemos ver o campo é vasto e provavelvemente não conseguiremos abordar toda a sua beleza e extenção; mas se tivermos a sorte de fazê-lo entender algumas das idéias de solidariedade, fraternidade e amor que emergem naturalmente desses estudos; se soubermos mostrar que o progresso é coletivo, que partindo do mesmo ponto, devemos atingir o mesmo objetivo ajudando uns aos outros mutuamentente, consideraremos que nosso esforço não foi em vão, e que a revista cumpriu o mandato que lhe foi confiado.
A Redação
Gabriel Delanne
Referências:
- Revue Scientifique et Morale du Spiritisme, 1° Année, 1896/1897.
- Kardec, Allan - O livro dos Médiuns